terça-feira, 5 de novembro de 2013

ARCADISMO


O ano de 1768 registra dois acontecimentos literários importantes no Brasil: a fundação da Arcádia Ultramarina, em Vila Rica, e a publicação do livro de poemas Obras, de Cláudio Manuel da Costa, considerados o marco inicial do Arcadismo no Brasil. Por ser o estilo de época característico dos anos de 1700 (século XVIII), o Arcadismo também é denominado Setecentismo.

O Arcadismo desenvolveu-se até 1808, com a chegada da família real ao Rio de Janeiro, a qual, com suas medidas político-administrativas, cria condições propícias para a introdução do pensamento romântico no Brasil.

Este movimento tem um espírito nitidamente reformista, pretendendo reformular o ensino, os hábitos, as atitudes sociais, uma vez que constitui a manifestação artística de um novo tempo e de uma nova ideologia.

No Brasil, o século XVIII assinala uma importante mudança na vida brasileira: com a decadência da economia canavieira, o centro econômico transfere-se do Nordeste para as novas regiões de mineração; na esteira da economia vem a vida política, social e cultural. Minas Gerais, em particular a cidade de Vila Rica (atual Ouro Preto), é a sede dos acontecimentos mais significativos dos anos dos Setecentos: a mineração, a Inconfidência, os poetas do Arcadismo, o gênio de Aleijadinho.

O Arcadismo tinha por lema a frase latina Inutilia truncat (acabe-se com as inutilidades), que denuncia à preocupação de truncar os exageros, o rebuscamento, a extravagância, cometidos pelo Barroco. Procurava-se, assim, atingir o ideal de simplicidade, o decantado equilíbrio clássico, a tão almejada medida certa.

Inspirados na frase de Horácio Fugere urbem (fugir da cidade) e levados pela teoria de Rousseau acerca do “bom selvagem”, os árcades voltaram-se para a natureza em busca de uma vida simples, bucólica e pastoril.
 


Principais autores e obras

 

Alvarenga Peixoto (1748-1793) – Enéias no Lácio e obra poética esparsa.

Basílio da Gama (1740-1795) – O Uraguai
Cláudio Manuel da Costa (1729-1789) – Obras poéticas; Vila Rica; Fábula do Ribeirão do Carmo.
Santa Rita Durão (1722-1784) – Caramuru.
Silva Alvarenga (1749-1814) – Obras poéticas; Glaura; O desertor.
Sousa Caldas (1762-1814) – Obra esparsa (poemas, traduções e cartas).
Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810) – Marília de Dirceu; Cartas Chilenas; Tratado de Direito Natural.
O Uraguai
“[...]
Mais perto
Descobrem que se enrola no seu corpo
Verde serpente, e lhe passeia, e cinge
Pescoço e braços, e lhe lambe o seio.
Fogem de a ver assim, sobressaltados,
E param cheios de temor ao longe;
E nem se atrevem a chamá-la, e teme
Que desperte assustada, e irrite o mostro,
E fuja, e apresse no fugir a morte.
Porém o destro Caitutu, que treme
Do perigo da irmã, sem mais demora
Dobrou as pontas do arco, e quis três vezes
Soltar o tiro, e vacilou três vezes
Entre a ira e o temor. Enfim sacode
O arco e faz voar a aguda seta,
Que toca o peito de Lindóia, e fere
A serpente na testa, e a boca e os dentes
Deixou cravados no vizinho tronco.
Açouta o campo coa ligeira cauda
O irado mostro, e em tortuosos giros
Se enrosca no cipreste, e verte envolto
Em negro sangue o lívido veneno.
                                               [...]”
(GAMA, Basílio da. O Uraguai. 2 ed. Rio de Janeiro, AGIR, 1972. P. 82-4.)


Análise de “O Uraguai”

O poema O Uraguai tem dois objetivos: defesa e exaltação da política pombalina e crítica ferrenha aos jesuítas, seus antigos mestres. O tema histórico do poema é a luta empreendida pelas tropas portuguesas, auxiliadas pelos espanhóis contra os índios de Sete Povos das Missões, instigados pelos jesuítas; portanto, a culpa era dos jesuítas e não dos índios, inocentes úteis nas mãos daqueles religiosos. Isso tudo é consequência do Tratado de Madri, em 1750, que delimitava a fronteira do sul do Brasil.
No aspecto formal, Basílio da Gama cria algumas inovações: os versos são decassílabos, brancos (sem rimas), não apresentam divisão em estrofes, e constam de apenas cinco cantos. Embora apresente a divisão tradicional das epopeias (proposição, invocação, dedicatória, narração e epílogo), não obedece à estrutura clássica, pois o poema se inicia pela narração.
São personagens do poema: Gomes Freire Andrada,  herói português; o padre Balda, o vilão; Lindóia, a heroína indígena; Cacambo, marido de Lindóia; Sepé; Tatu-Guaçu; Caitutu, irmão de Lindóia; Tanajura, uma índia vidente.


 
 
 
 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS
 
CEREJA, William Roberto; MAGALHÃES, Thereza Cochar. Português: Linguagens: Literatura, produções de texto e gramática. Volume I - 3. ed. rev. e ampl. – São Paulo: Atual, 1999. 
 
MOISÉS, Massaud. A literatura portuguesa. 34ª reimpr. da 1ª ed. De 1960 / São Paulo; Cultrix, 2006;
 
NICOLA, José de; TERRA, Ernani. Gramática & Literatura: Para o 2º grau. Volume único – 6. ed. São Paulo: Scipione, 1995.
                                             Encaminhado por:  Francislene da Costa RA: 1299165759 &
                                                                                Michele Araújo Silva RA: 5628106780


                           
 

5 comentários:

  1. Gostaríamos de acrescentar neste excelente trabalho um comentário do Arcadismo em Portugal. Parabéns.
    Os portugueses orgulhosos por conquistarem finalmente a sua independência política, vivenciam o surgimento do Arcadismo, movimento literário que se propunha a combater os exageros do rebuscamento Barroco.
    Manuel Maria Barbosa Du Bocage, pseudônimo Elmano Sadino, é o principal representante do Arcadismo em Portugal.
    Temas abordados pelo Arcadismo: lócus amenus que prega a fuga da cidade para o campo; carpe diem o máximo de prazer em tudo o que você fizer e tempus fugit é a efemeridade do tempo.
    Ao refletir sobre Bocage não se pode ignorar a dualidade dos sentimentos e a razão, tema central de suas obras.
    Curiosidade: Bocage ingressou na Escola da Marinha, mas era boêmio e por isso não foi bem sucedido. Certa vez, viajou para a Índia e desejou ficar um período no Brasil, Rio de Janeiro, depois retornou para Portugal.

    Helen, Leandro, Lucinéia e Mônica


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  2. Bom trabalho, parabéns a todos
    Bogage
    Sátira Besta e mais besta! O positivo é nada...
    (Perdoa, se em gramática te falo,
    Arte que ignoras, como ignoras tudo.)
    Besta e mais besta! Na palavra embirro;
    Que a besta anexa ao mais teu ser define

    MICHELE FERREIRA DOS ANJOS DE PAULO- 12998765825

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  3. A importância do Arcadismo é que ele reflete a ideologia da classe aristocrática em decadência e da alta burguesia, insatisfeitas com o absolutismo real, e com as formas sociais de convivência rígidas, artificiais e complicadas. As mudanças estéticas apoiam-se na revolução filosófica que representou o Iluminismo.
    O escritor árcade está preocupado em ser simples e racional, inteligível. E para atingir esses requisitos exige-se a imitação dos autores consagrados da Antiguidade, preferencialmente os pastoris. Daí a contínua utilização da mitologia clássica como recurso poético, representando outra convenção, tornada obrigatória pelo prestígio dos modelos antigos.

    Parabéns, pessoal!! Ótima apresentação!!

    Oswaldo Ferreira de Alencar RA - 1299141108

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  4. O Arcadismo uma escola muito linda de estudar e aprender!
    O Arcadismo começa em 1700 a 1768 chamado de setecentismo.
    Um dos marcos do Arcadismo é o poema do O Uruguai que retrata a bravura, a beleza, o misterioso e as afrontas daquela época!
    Teve muitas conquistas e muitas glórias nessa escola!

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  5. Parabéns!
    A linguagem árcade é a expressão das ideias e dos sentimentos do artista do século XVIII. Seus temas e sua construção procuram adequar-se à nova realidade social vivida pela classe que a produzia e a consumia: a burguesia.

    Daniele Farias 0000042857, Cleusa Oliveira 4200063195, Viviane de Carvalho 3715664104.

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