O ano de 1768 registra
dois acontecimentos literários importantes no Brasil: a fundação da Arcádia
Ultramarina, em Vila Rica, e a publicação do livro de poemas Obras, de Cláudio Manuel da Costa,
considerados o marco inicial do Arcadismo
no Brasil. Por ser o estilo de época característico dos anos de 1700 (século
XVIII), o Arcadismo também é
denominado Setecentismo.
O Arcadismo
desenvolveu-se até 1808, com a chegada da família real ao Rio de Janeiro, a
qual, com suas medidas político-administrativas, cria condições propícias para
a introdução do pensamento romântico no Brasil.
Este movimento tem um
espírito nitidamente reformista, pretendendo reformular o ensino, os hábitos,
as atitudes sociais, uma vez que constitui a manifestação artística de um novo
tempo e de uma nova ideologia.
No Brasil, o século
XVIII assinala uma importante mudança na vida brasileira: com a decadência da
economia canavieira, o centro econômico transfere-se do Nordeste para as novas
regiões de mineração; na esteira da economia vem a vida política, social e
cultural. Minas Gerais, em particular a cidade de Vila Rica (atual Ouro Preto),
é a sede dos acontecimentos mais significativos dos anos dos Setecentos: a
mineração, a Inconfidência, os poetas do Arcadismo, o gênio de Aleijadinho.
O Arcadismo tinha por
lema a frase latina Inutilia truncat (acabe-se
com as inutilidades), que denuncia à preocupação de truncar os exageros, o
rebuscamento, a extravagância, cometidos pelo Barroco. Procurava-se, assim,
atingir o ideal de simplicidade, o decantado equilíbrio clássico, a tão
almejada medida certa.

Principais
autores e obras
Alvarenga
Peixoto (1748-1793) –
Enéias no Lácio e obra poética esparsa.
Basílio
da Gama (1740-1795) – O
Uraguai
Cláudio
Manuel da Costa (1729-1789) – Obras poéticas; Vila Rica; Fábula do Ribeirão do Carmo.
Santa
Rita Durão (1722-1784) – Caramuru.
Silva
Alvarenga (1749-1814) – Obras
poéticas; Glaura; O desertor.
Sousa
Caldas (1762-1814) – Obra esparsa (poemas, traduções e
cartas).
Tomás
Antônio Gonzaga (1744-1810) – Marília de Dirceu; Cartas Chilenas; Tratado de Direito Natural.
O Uraguai
“[...]
Mais
perto
Descobrem
que se enrola no seu corpo
Verde
serpente, e lhe passeia, e cinge
Pescoço
e braços, e lhe lambe o seio.
Fogem
de a ver assim, sobressaltados,
E
param cheios de temor ao longe;
E
nem se atrevem a chamá-la, e teme
Que
desperte assustada, e irrite o mostro,
E
fuja, e apresse no fugir a morte.
Porém
o destro Caitutu, que treme
Do
perigo da irmã, sem mais demora
Dobrou
as pontas do arco, e quis três vezes
Soltar
o tiro, e vacilou três vezes
Entre
a ira e o temor. Enfim sacode
O
arco e faz voar a aguda seta,
Que
toca o peito de Lindóia, e fere
A
serpente na testa, e a boca e os dentes
Deixou
cravados no vizinho tronco.
Açouta
o campo coa ligeira cauda
O
irado mostro, e em tortuosos giros
Se
enrosca no cipreste, e verte envolto
Em
negro sangue o lívido veneno.
[...]”
(GAMA, Basílio da. O Uraguai. 2 ed. Rio de Janeiro, AGIR,
1972. P. 82-4.)
Análise
de “O Uraguai”
O poema O Uraguai tem
dois objetivos: defesa e exaltação da política pombalina e crítica ferrenha aos
jesuítas, seus antigos mestres. O tema histórico do poema é a luta empreendida
pelas tropas portuguesas, auxiliadas pelos espanhóis contra os índios de Sete
Povos das Missões, instigados pelos jesuítas; portanto, a culpa era dos
jesuítas e não dos índios, inocentes úteis nas mãos daqueles religiosos. Isso
tudo é consequência do Tratado de Madri, em 1750, que delimitava a fronteira do
sul do Brasil.
No aspecto formal,
Basílio da Gama cria algumas inovações: os versos são decassílabos, brancos
(sem rimas), não apresentam divisão em estrofes, e constam de apenas cinco
cantos. Embora apresente a divisão tradicional das epopeias (proposição,
invocação, dedicatória, narração e epílogo), não obedece à estrutura clássica,
pois o poema se inicia pela narração.
São personagens do
poema: Gomes Freire Andrada, herói
português; o padre Balda, o vilão; Lindóia, a heroína indígena; Cacambo, marido
de Lindóia; Sepé; Tatu-Guaçu; Caitutu, irmão de Lindóia; Tanajura, uma índia
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REFERÊNCIAS
CEREJA, William
Roberto; MAGALHÃES, Thereza Cochar. Português:
Linguagens: Literatura, produções de texto e gramática. Volume I - 3. ed.
rev. e ampl. – São Paulo: Atual, 1999.
MOISÉS,
Massaud. A literatura portuguesa. 34ª
reimpr. da 1ª ed. De 1960 / São Paulo; Cultrix, 2006;
NICOLA, José de; TERRA,
Ernani. Gramática & Literatura: Para
o 2º grau. Volume único – 6. ed. São Paulo: Scipione, 1995.
Gostaríamos de acrescentar neste excelente trabalho um comentário do Arcadismo em Portugal. Parabéns.
ResponderExcluirOs portugueses orgulhosos por conquistarem finalmente a sua independência política, vivenciam o surgimento do Arcadismo, movimento literário que se propunha a combater os exageros do rebuscamento Barroco.
Manuel Maria Barbosa Du Bocage, pseudônimo Elmano Sadino, é o principal representante do Arcadismo em Portugal.
Temas abordados pelo Arcadismo: lócus amenus que prega a fuga da cidade para o campo; carpe diem o máximo de prazer em tudo o que você fizer e tempus fugit é a efemeridade do tempo.
Ao refletir sobre Bocage não se pode ignorar a dualidade dos sentimentos e a razão, tema central de suas obras.
Curiosidade: Bocage ingressou na Escola da Marinha, mas era boêmio e por isso não foi bem sucedido. Certa vez, viajou para a Índia e desejou ficar um período no Brasil, Rio de Janeiro, depois retornou para Portugal.
Helen, Leandro, Lucinéia e Mônica
Bom trabalho, parabéns a todos
ResponderExcluirBogage
Sátira Besta e mais besta! O positivo é nada...
(Perdoa, se em gramática te falo,
Arte que ignoras, como ignoras tudo.)
Besta e mais besta! Na palavra embirro;
Que a besta anexa ao mais teu ser define
MICHELE FERREIRA DOS ANJOS DE PAULO- 12998765825
A importância do Arcadismo é que ele reflete a ideologia da classe aristocrática em decadência e da alta burguesia, insatisfeitas com o absolutismo real, e com as formas sociais de convivência rígidas, artificiais e complicadas. As mudanças estéticas apoiam-se na revolução filosófica que representou o Iluminismo.
ResponderExcluirO escritor árcade está preocupado em ser simples e racional, inteligível. E para atingir esses requisitos exige-se a imitação dos autores consagrados da Antiguidade, preferencialmente os pastoris. Daí a contínua utilização da mitologia clássica como recurso poético, representando outra convenção, tornada obrigatória pelo prestígio dos modelos antigos.
Parabéns, pessoal!! Ótima apresentação!!
Oswaldo Ferreira de Alencar RA - 1299141108
O Arcadismo uma escola muito linda de estudar e aprender!
ResponderExcluirO Arcadismo começa em 1700 a 1768 chamado de setecentismo.
Um dos marcos do Arcadismo é o poema do O Uruguai que retrata a bravura, a beleza, o misterioso e as afrontas daquela época!
Teve muitas conquistas e muitas glórias nessa escola!
Parabéns!
ResponderExcluirA linguagem árcade é a expressão das ideias e dos sentimentos do artista do século XVIII. Seus temas e sua construção procuram adequar-se à nova realidade social vivida pela classe que a produzia e a consumia: a burguesia.
Daniele Farias 0000042857, Cleusa Oliveira 4200063195, Viviane de Carvalho 3715664104.