O Humanismo marca toda a transição de um Portugal caracterizado por valores puramente medievais para uma nova realidade mercantil em que se percebe a ascensão dos ideais burgueses. A economia de subsistência feudal é substituída pelas atividades comerciais; inicia-se uma retomada da cultura clássica, esquecida durante a maior parte da idade média, ao lado do pensamento teocêntrico medieval, começa a surgir uma nova visão do mundo que coloca o homem como centro das atenções (antropocentrismo).
Entre tantas características o movimento Renascentista foi conhecido pela disseminação do Humanismo. De forma geral, o Humanismo manifesta o interesse que os intelectuais e artistas dessa época tiveram em tratar e explorar os assuntos que estivessem intimamente ligados à figura do homem. Com isso, seria firmado um contraponto em que poderíamos sugerir que os Renascentistas firmavam uma clara ruptura para com os valores do pensamento medieval.
O projeto Literário do Humanismo
O Humanismo foi um movimento literário artístico e intelectual que surgiu na Itália no final da Idade Média (século XIV) e alcançou plena maturidade no Renascimento. O foco dos humanistas era o ser humano, o que os afastava do teocentrismo medieval. Resgatava-se assim, a visão antropocêntrica característica da cultura greco-latina.
O Humanismo representa um momento de transição entre o mundo medieval e o moderno. Por esse motivo, o projeto literário humanista não tem características completamente definidas: o velho e o novo convivem, provocando uma tensão que se evidencia na produção artística e cultural.
Em linhas gerais, essa produção será marcada pelo abandono da subordinação absoluta à igreja Católica e pelo resgate dos valores clássicos. Como consequência do estudo das obras greco-latinas, ganha força um olhar mais racional para o mundo, que procura na Ciência uma explicação para fenômenos até então atribuídos a Deus.
A obra de Dante Alighieri (1265-1321) e de Francesco Petrarca (1304-1374), poetas Italianos, constituiu a base para o desenvolvimento da literatura no período humanista e serviu de inspiração para artistas de outros países europeus.
O contexto de produção da literatura humanista é o mesmo do Trovadorismo: as cortes e os palácios. A função principal da literatura é promover a diversão e o prazer da aristocracia.
Por volta de 1450, Johann Gutenberg cria a prensa e revoluciona a produção de livros na Europa, fazendo com que a cultura oral comesse a fazer espaço para a cultura escrita. Essa mudança no contexto de circulação das obras permitira que escritores e poetas explorassem novos recursos de linguagem que não dependem da oralidade e da memória, como acontecia até então.
. Linguagem: A importância das metonímias
A grande novidade da literatura humanista é a adoção do soneto como forma poética fixa. Essa forma poética conquistará o gosto da elite, por acomodar, em uma estrutura fixa, o novo olhar indagador, analítico, que procura explicar racionalmente os sentimentos humanos.
Uma consequência dessa intenção humanista ficará evidente na seleção de imagens trabalhadas em poemas da época. Partes do corpo humano, geralmente olhos e coração são mencionadas nos poemas para ilustrar os efeitos do amor.
Cantiga
Acho que me deu Deus tudo Assi que me deu Deus tudo
para mais meu padecer: para mais meu padecer:
os olhos – para vos ver, os olhos – para vos ver,
coração – para sofrer, coração – para sofrer,
e língua – para ser mudo. e língua – para ser mudo.
Olhos com que vos olhasse,
Coração que consentisse,
Língua que me condenasse:
Mas não já que me salvasse
De quantos males sentisse.
SOUSA, Francisco de. In: SPINA,
Segismundo. Era Medieval.
Segismundo. Era Medieval.
8. Ed. São Paulo: Difel, 1985.p. 136.
(Coleção Presença da Literatura Portuguesa).
Esse mesmo procedimento também é utilizado para mostrar como determinada parte do corpo feminino simboliza todas as qualidades da mulher louvada no poema.
Contexto histórico
Historicamente, o Humanismo chega a Portugal em um momento muito importante: O reinado da Dinastia de Avis (1385-1580). A nomeação de Fernão Lopes como cronista-mor do reino, em 1434, é considerada o marco inicial do Humanismo português.
A partir dessa data, Fernão Lopes torna-se o responsável por registrar, em crônicas, a história dos reis que governaram Portugal. Ele permaneceu no cargo até 1454 e escreveu três crônicas:
• Crônica de el-rei D. Pedro I: compilação e crítica dos principais acontecimentos do reinado de D. Pedro I, também conhecido como Pedro, o Cru. Nesse volume encontra-se o relato do episódio da morte de Inês de Castro, amante do rei, mandada assassinar por D. Afonso IV, pai de D. Pedro.
• Crônica de el-rei D. Fernando: reconstituição do período que se inicia com o casamento de D. Fernando com Dona Leonor Teles e encerra-se com a revolução de Avis.
• Crônica de el-rei D. João: dividida em duas partes, a primeira começa com a morte de D. Fernando, em 1383, e termina com a revolução que leva D. João I ao trono português; na segunda parte é descrito o reinado de D. João até o ano de 1411.
Fernão Lopes distingue-se dos demais historiadores por valorizar o povo, até então tratado como uma espécie de coadjuvante da historia dos reis. Essa priorização do ser humano em relação ao registro do fato torna evidente o seu espirito humanista.
Em Portugal, o ressurgimento da poesia, agora separada da música, ocorreu durante o reinado de D. Afonso V – já em pleno século XV- impulsionado pela renovação cultural promovida na corte portuguesa com o inicio da dinastia de Avis.
A poesia palaciana, formalmente mais elaborada, substituiu a estrutura paralelística e a diversidade métrica das cantigas trovadorescas por versos de métrica repetitiva, como os redondilhos de 5 e 7 sílabas. Adotou formas fixas (o vilancete, a cantiga e a trova) e deixou de ser acompanhada por instrumentos musicais.
O Cancioneiro geral de Garcia de Resende
Tal como a conhecemos hoje, a poesia palaciana foi produzida durante os reinados de D. Afonso V, D. João II e D. Manuel e compilada pelo poeta Garcia de Resende em um único volume – o Cancioneiro geral – em 1516.
Um dos aspectos que merecem destaque sobre poesia palaciana é seu caráter coletivo, pois, durante o reinado de D. Afonso V (conhecido como “O Humanista”), eram frequentes as reuniões no Paço, quando se realizavam concursos poéticos, ouvia-se música, as poesias eram recitadas e ocorriam até mesmo algumas apresentações de caráter teatral (espetáculo de alegorias ou paródias).
Poesia Palaciana:
Que de meus olhos partais,
em qualquer parte qu’esteis,
em meu coração ficais
e nele vos converteis.
Est’é o vosso lugar,
em que mais certa vos vejo,
por que não quer meu desejo
que vos d’i possais mudar.
E por isso, que partais,
em qualquer parte qu’esteis,
em meu coração ficais,
pois neles vos converteis.
GONÇALVES, Rui. In TORRES, Alexandre Pinheiro (Org.).
Antologia da poesia portuguesa (Séc. XII – Séc.XX).
Porto: Lello e Irmão Editores, 1977.
Porto: Lello e Irmão Editores, 1977.
A poesia palaciana tem vários temas, mas sua melhor produção é a voltada para as questões amorosas: o sofrimento amoroso e a súplica. Esses temas serão, agora, desenvolvidos de modo bem menos idealizado do que nas composições medievais; a mulher é tratada pelo poeta com maior intimidade, atenuando sensivelmente o tom de veneração absoluta assumida pelos trovadores.
O Teatro de Gil Vicente
A vida de Gil Vicente, o grande teatrólogo do Humanismo português, é pouco conhecida. Supõe-se que seu nascimento tenha ocorrido em 1465. O ano em que foi encenada sua última peça – Floresta de enganos – é também considerado o ano de sua morte: 1536.
Em 71 anos de vida, o autor produziu uma vasta obra teatral. Sua primeira peça – escrita em 1502- foi Auto da visitação, feita em homenagem à rainha Dona Maria pelo nascimento de seu filho D. João III.
Como não se tem noticias de autores portugueses de teatro anteriores a Gil Vicente, ele é considerado o “pai do teatro português”.
Produção Teatral
Calcula-se que o autor tenha escrito cerca de 44 peças (há quem fale em cinquenta, mas algumas se perderam), 17 das quais em português, 11 em castelhano e 16 bilíngues. Suas obras podem ser divididas em:
- Autos pastoris (éclogas): gênero a que pertencem algumas das primeiras obras do autor. Alguma dessas peças tem caráter religioso (caso, por exemplo, do Auto pastoril português), outras, profano (como o Auto pastoril da Serra da Estrela).
- Autos de moralidade: gênero em que Gil Vicente se celebrizou. A maior parte de suas peças conhecidas são autos de moralidade, como a Trilogia das barcas (Auto da barca do inferno, Auto da barca do purgatório, Auto da barca da glória e também o Auto da alma.).
- Farsas: peças de caráter crítico utilizam tipos populares como personagens e desenvolvem-se em torno de problemas da sociedade. As mais populares são a Farsa de Inês Pereira e a Farsa do Velho da horta, em que o autor ridiculariza a paixão de um velho casado por uma jovem virgem.
Sempre preocupado com a correção dos costumes, Gil Vicente adota como lema uma famosa frase de Plauto, grande dramaturgo latino: ridendo castigat mores (“rindo, corrigem-se os costumes”), por isso, partia de situações modelares, que eram prontamente identificadas pela plateia e produziam efeitos imediatos.
Sem fazer distinções entre as classes sociais, o teatro vicentino celebrizou-se por colocar no centro da cena os erros de ricos e pobres, nobres e plebeus. Denuncia os exploradores do povo (como o fidalgo, o sapateiro e o agiota do Auto da barca do inferno), ridiculariza os velhos sensuais; enfim, traça um quadro animado da sociedade portuguesa do século XVI, procurando sempre, além de divertir, recuperar as virtudes humanas.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Entre os séculos XIV e XV, uma mudança significativa ocorreu na Europa medieval. O ser humano começa a se libertar do poder centralizado da igreja e a desenvolver uma mentalidade em que cabem preocupações e prazeres mais humanos, o que os levou a esse questionamento do poder de Deus e à valorização do ser humano.
No Humanismo “O ser humano passou a ser valorizado”, ou seja, o humanismo pode ser definido como um conjunto de ideias e princípios que valorizam as ações humanas e valores morais (respeito, justiça, honra amor, liberdade, solidariedade etc).
Para os humanistas, “Os seres humanos são responsáveis pela criação e desenvolvimento destes valores”.
REFERENCIAS:
ABAURRE, Maria Luisa/ Marcela Nogueira Pontara/ Tatiana Fadel. Português, Língua, Literatura e Produção de texto. Editora Moderna, 2ª edição, São Paulo, 2004.
ABAURRE, Maria Luisa M/ Maria Bernadete M Abaurre/ Marcela Pontara. Português, Contexto, Interlocução e sentido. Editora Moderna, 1ª edição, São Paulo 2008.
MOISÉS, Massaudi. A Literatura Portuguesa através dos textos. Editora Cultrix, 23ª. Edição, revista e atualizada. São Paulo.
Ana Claudia da Silva Santana - 4200077224
Natalina Nazaré Apolônio - 4200077231
Gil Vicente considerado o pai do teatro português (1465- 1536) com a finalidade de incutir a moral, seu objetivo era mostrar como o ser humano era egoísta, falso, mentiroso, orgulhoso, carnal e ganancioso, o que muito se vê no mundo contemporâneo.
ResponderExcluirReflexão de um político corrupto após ler "Auto da barca do Inferno" de Gil Vicente.
Quando eu morrer
Isto irá acontecer
Na barca do anjo
O caminho irei percorrer.
Porque eu sou bom!
Muito pude fazer
Fiz mais por mim,
Mas ninguém precisa saber!
Sei que muito prometi,
nem a metade cumpri.
Mas não será por isso
Que na barca do Diabo irei parti.
O dinheiro desviado
Não é tanto assim.
Construí ruas, praças, viadutos,
Não sobrou muito para mim.
Não podem me condenar
Quando desta eu passar
Quem mandou o povo
Hi, hi, hi, em mim votar.
Na barca do Inferno
Eu não vou entrar!
Preciso o anjo convencer,
Quem sabe um cargo prometer.
Bobo foi o Fidalgo,
Que deixou alguém a rezar,
Como eu não sou bobo,
Hi, hi, hi, uma propina vou levar!
(Josefa C.C.Innocêncio)
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ResponderExcluirO Humanismo ( vem de humanitas, latim, modelo educacional semelhante à Paideia Grega, que busca a integralidade do ser humano, sua realização plena)
Excluir.Não surgiu entre a idade média e o Renascimento, e coincide com o inicio de uma nova classe social (a burguesia), pelos meus estudos o que se chama Humanismo é a manifestação literária do Renascentismo ( renovação cultural, política, científica e artística) período de transição da Idade Média para a Moderna que antecede o Classicismo.
A importância do humanismo para o nosso curso de Letras é que desenvolve-se uma nova concepção de vida: os eruditos defendem a reforma total do homem; acentuam-se o valor do homem na terra, tudo o que possa tornar conhecido o ser humano; preocupam-se com o desenvolvimento da personalidade humana, das suas faculdades criadoras; têm como objetivo atualizar, dinamizar e dar uma nova vida aos estudos tradicionais; empenham-se em fazer a reforma educacional.
ResponderExcluirParbéns!! muito bom!!
Oswaldo Ferreira de Alencar Junior RA - 1299141108
Eu chamo de o Humanismo de escola prima pois ela é a primeira para mim, devido a evolução do homem das cavernas até a idade do fogo e dá pedra lascada.
ResponderExcluirOnde a evolução tem início a toda transformação de vida no contexto geral de todas as escolas literárias antigamente.
O começo vêm dessa escola: fogo, pedra, pinturas e sinais.