sábado, 2 de novembro de 2013

Trovadorismo: poesia e prosa

         O trovadorismo foi a primeira manifestação da literatura da língua portuguesa, surgiu no século XII em plena idade média, quando Portugal constituiu um país independente. O surgimento Trovadorismo, na Península Ibérica, se deu no século XI, momento em que a Europa alcançou o ápice do feudalismo, modelo econômico sustentado na relação de senhorio e vassalagem, tão bem representada nas cantigas de amor. Dois traços marcantes predominaram a visão da sociedade da época: o teocentrismo no plano religioso, cuja ideologia afirmava que deus era o centro de todas as coisas. O feudalismo no plano político- econômico que estava diretamente relacionado a posse da terra.   
      O direito de governar estava somente nas mãos do senhor feudal, que mantinha tota poderes sobre todos os seus servos por meio de um sistema de vassalagem. Os vassalos obedeciam ao senhor feudal em troca de proteção e ajuda financeira.
      Esse sistema de vassalagem refletiu-se na poesia trovadoresca, iniciando o trovadorismo, sendo uma cantiga de amor. O primeiro escrito literário português, datado de 1189 ou 1198 (não há um registro preciso da data). Trata- se da Cantiga da Ribeirinha (ou cantiga Guarvaia), feita pelo poeta Paio Soares de Taveirós, dedica a D. Maria Paes Ribeiro, a Ribeirinha.
      Os poetas dessa época eram chamados de trovadores. A palavra trovador vem “do francês “Trouver’’ (significa achar,encontrar). O trovador era aquele que conseguia encontrar as palavras certas, que sabia compor com arte. As poesias eram feitas para serem cantadas e por isso eram chamadas de cantigas.
      Há dois tipos de cantigas: a cantiga lírico-amorosa, que subdividia em cantiga de amor e cantiga de amigo e a cantiga satírica, que podia ser de escárnio ou de maldizer.
      As cantigas de amor retrata um amor impossível, pois a mulher pertence a uma classe social superior a do trovador.
      As cantigas de amigo eram inspiradas em cantigas populares, fato que as concebe como sendo mais ricas e mais variadas no que diz respeito à temática e a forma, além de serem mais antigas.
      A cantiga satírica, que podia ser de escárnio ou de maldizer. Nesse tipo de poema, os artistas da época, além de expressar o seu eu lírico, também se preocupam em menosprezar os costumes da época. Usando de uma linguagem bem popular, os trovadores denunciavam os falsos valores morais de todas as classes sociais da época. As poesias trovadorescas estão reunidas em cancioneiros. Os mais importantes são: O Cancioneiro da Ajuda, o mais antigo com 310 cantigas, O Cancioneiro da Vaticana, pertencente a biblioteca do vaticano, com 1205 cantigas, O Cancioneiro da Biblioteca Nacional de Lisboa, anteriormente chamado Colocci- Brancutti, com 1647 cantigas.
      Os principais trovadores foram: João Soares de Paiva, Paio Soares de Taveirós, o Rei D. Dinis, João Garcia de Guilhade, Afonso Sanches, João Zorro, Aires Nunes, Nuno Fernandes Torneol. O mais famoso foi D. Dinis , o Rei Trovador. Em 1290, ele tornou obrigatório o uso da língua portuguesa e também fundou a 1ª universidade em Portugal.
      A cantiga de Amor A Ribeirinha é considerada por alguns, a mais antiga cantiga dos cancioneiros medievais e um marco na literatura nacional. Alguns estudiosos entendem que trata-se de uma cantiga de amor e outros de uma cantiga de escárnio plena de ironia, por isso atualmente é considerada por diversos autores como uma cantiga satírica.

    Cantiga da Ribeirinha

  No mundo nom me sei parelha
  Mentre me for como me vai,
  Ca já moiro por vos e ai!
  Mia senhor branca e vermelha,
  Queredes que vos retraia
  Quando vos eu vi em saia.
  Mao dia me levantei
  Que vos enton mom vi fea

  E, mia dês aquelha,
  Me foi a mi mui mal di’ai
  E vos, filha de Dom Paai
  Monis, e bem vos semelha
  D’aver eu por vos, guarvaia
  Pois eu, mia senhor, d’alfaia
  Nunca de vós ouve nem ei
  Valia d’ua correa.

   (Paio Soares Taveirós)
    
      A prosa medieval apresentou caráter predominantemente documental, o que diminuiu seu valor literário. Apenas um gênero se destacou: as Novelas de Cavalaria, que eram narrativas de feitos heroicos e guerreiros, originadas nas antigas canções de gesta. Em Portugal, apenas as novelas do Ciclo Bretão ou Arturiano, sobre o rei Artur e os cavaleiros da Távola Redonda, deixaram marcas.
      A prosa é originárias das canções de gesta francesas (narrativas de temas guerreiros),as novelas de cavalaria passaram a serem  traduzida a partir do século XIII. Nessas novelas destaca-se a presença do cavaleiro medieval, que passava por situações perigosas para defender o bem e vencer o mal. O herói, de acordo com a      Igreja Católica (pela qual luta), é casto, fiel, dedicado, disposto a qualquer sacrifício para defender a honra cristã.
      Existiam três ciclos que englobavam todas as novelas de cavalaria: ciclo clássico, ciclo carolíngio e o ciclo Bretão ou Artusiano,  porem somente um ciclo (ciclo Bretão ou Artusiano) obteve uma grande popularidade em Portugal, dando início a primeira obra da prosa literária lusa medieval: A Demanda do Santo Graal. Essa obra foi considerada um grande romance da busca do cálice sagrado, por isso esse nome demanda (busca) santo graal (cálice sagrado).
Ciclo Clássico (Greco-Latino): todas as novelas desse ciclo ficam ao redor do Cerco de Tróia e das Gestas de Alexandre Magno, levando para a Idade Média os lugares e os heróis da Antiguidade, que estavam medievalizados em todos os seus hábitos.
Ciclo Carolíngio: todas as novelas vieram para o Brasil logo no período da colonização, onde seus heróis até hoje mantêm a literatura de cordel nordestina, seus versos eram sobre as aventuras de Carlos Magno, junto com seus doze Pares de França.
Ciclo Bretão ou Artusiano:
Este ciclo possui três novelas, que são elas:
- José de Arimatéia;
- História de Merlim;
- Demanda do Santo Graal.
      A prosa medieval é um ciclo de histórias, geralmente de cavalaria, que dominaram o período medieval. Pode ser dividida em quatro tipos de narrativas:
Crônicões: São narrativas de fatos históricos importantes colocados em ordem cronológica, entre meados de fatos fictícios.
Hagiografias:  São narrativas que contam a vida de santos (biografias).
Nobiliários ou livros de linhagens: São relatórios a respeito da vida de um nobre, sua árvore genealógica (antepassados), relação das riquezas e dos títulos de nobreza que possui, etc.
Novelas de Cavalaria: São narrativas literárias em capítulos que contam os grandes fatos de um herói (acompanhado de seus cavaleiros), entremeados de célebres histórias de amor. 
     As novelas mais marcantes são: A Demanda do Santo Graal : narra a busca do cálice sagrado pelo rei Artur e os cavaleiros da távola redonda; Amadis de Gaula, de autoria de Vasco ou João da Lobeira, Palmeirim de Inglaterra, de Francisco de Moraes Cabral.
                                    Amadis de Gaula
     Amadis de Gaula, novela do ciclo Bretão, reflete muito bem o ideal de amor cortês e a atmosfera das cantigas de amor. Amadis é filho ilegítimo do rei Perion de Gaula e da princesa Elisena, filha do rei da Pequena Bretanha. Repudiado, é abandonado ao mar e encontrado pela família de Oriana. Cresce como pajem dela e, aos poucos, seu amor pela jovem vai-se tornando adoração. Amadis serve Oriana com devoção. Depois de muito tempo, confessa seu sentimento, e os dois decidem mantê-lo em segredo. Sagrado cavaleiro,  enfrenta situações de grande perigo em defesa de sua amada. Todavia, Oriana o acusa de infidelidade e Amadis resolve se isolar. Mas não consegue ficar muito tempo longe dela. Certa vez defendendo-a na floresta, Amadis e Oriana acabam jurando amor eterno. Depois de uma série de aventuras, casam-se.

      Amadis é um perfeito cavaleiro: guarda o sentimento do amante e a necessária ousadia do lutador. É, a um só tempo, forte e frágil; decidido e terno; furioso e cortês. O seu amor por Oriana vence qualquer obstáculo, caracterizando-se, como nas cantigas, pela submissão e fidelidade à dama.

      Um torneio
(Um herói como Amadis deve ser corajoso, não temendo confronto e o perigo).
                                    A demanda do Santo Graal
      A demanda do Santo Graal pertence ao ciclo bretão ou arturiano, esta novela conta que em Camelot, reino do rei Artur, estão reunidos dezenas de cavaleiros na véspera do dia de Pentecostes.
      Sir Lancelot comparece a uma igreja, para sagrar Galaaz cavaleiro. Depois de cumprir essa obrigação, no caminho de volta a Camelot, Lancelot encontra uma pedra de mármore boiando na água: nela fincava uma espada, que ele e outros cavaleiros tentam arrancar, inutilmente. De repente, surge o recém-sagrado cavaleiro Galaaz, que consegue arrancar com facilidade a espada. Em seguida, os cavaleiros participam de um torneio. Quando estão todos sentados para a refeição servida na grande Távola Redonda, surge o Graal (cálice) flutuando sobre a imensa mesa, brilhando muito e encantando a todos. Em seguida desaparece.
     No dia seguinte, os cavaleiros decidem sair à procura (demanda) do Santo Graal.

Galaaz é mais uma vez escolhido para encontrar o cálice. Ele localiza o Santo Vaso, que é o símbolo da Eucaristia, em Sarras. É a consagração para sua vida dedicada ao culto da moral e à renuncia às vaidades físicas.


Várias vezes aproveitada pelo cinema, a lenda do Santo Graal teve essa versão contemporânea, em que o arqueólogo Indiana Jones vai em busca do cálice no qual o sangue do Salvador foi recolhido.
     Em Portugal, somente as novelas do ciclo bretão ( que tinha o rei Artur como herói) caíram no gosto popular.  Amadis de Gaula e A demanda do Santo Graal foram as preferidas entre os portugueses.
     Portanto a finalidade de todos os trovadores era transmitir mensagens ou notícias e alegrar o povo local ou, quando viajante da cidade, onde ele estivesse no momento. Não podemos negar a importância das poesias e prosas trovadorescas como um marco inicial na literatura portuguesa.




Referências
CAMPEDELLI,Samira Yousseff. Literaturas: Brasileira e Portuguesa. 1ª edição. São Paulo: Saraiva, 2000.
MOISÉS, Massaud. A Literatura Portuguesa. Através dos textos. 26ª edição. São Paulo: Cultrix, 2000.

Cleusa J de Oliveira
Daniele Farias
Viviane Carvalho Coelho
Faculdade Anhanguera (Anchieta)
Curso de letras (Literatura) 4º A N.
 Prof.ª D.ª Shizuko Higashi


11 comentários:

  1. A época do Trovadorismo também foi caracterizada pela presença das novelas ou romances de cavalaria, a Idade Média viu florescerem, além das cantigas, as famosas novelas de cavalaria, que surgem com o declínio do prestigio da poesia dos trovadores, através da transformação sofrida pelas canções de gesta (poesias), que foram prosificadas. As canções de gesta passaram a ser tão extensas que se tornou difícil de memorizá-las, passando assim a serem escritas em prosa, e deixando de ser cantadas para serem lidas.

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  2. Colegas,

    Para quem gosta de música e diz que não suporta a poesia lírica: ambas as artes nasceram juntas. Eram canções misturadas com poesias que os nobres ociosos compunham dando origem assim aos trovadores.
    No idioma galego-português a poesia trovadoresca se dividiu em cantigas de amor e de amigos conhecidos como a poesia lírica e as cantigas de escárnio e de maldizer que eram as poesias satíricas.
    Nas cantigas os instrumentos de sopro, corda e percussão fechavam o elo com a dança e o canto.

    Excelente trabalho.

    Helen, Leandro, Lucinéia e Mônica

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  3. Massaud Moisés diz bem quando salienta que a poesia trovadoresca "exige do leitor de nossos dias um esforço de adaptação e um conhecimento adequado das condições históricas em que a mesma se desenvolveu, sob pena de tornar-se insensível à beleza e à pureza natural que marcam essa poesia".
    Mas eu gostei do trabalho e das imagens, parabéns!
    Marina Caetano RA:1299183445

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  4. Josefa C.C.Innocêncio

    Bom trabalho!
    Na semana pedagógica de letras (12/11/13), a palestrante e trovadora Domitilla Borges Beltrame citou uma lista de poetas trovadores como Fernando Pessoa, Olavo Bilac, Castro Alves, Manoel Bandeira, Mario Quitana, porém, na época era o soneto que estava em evidênci
    a. Também citou trovadores atuais como Luiz Otório, Luiz Carlos Obrieta e a própria Domitilla.
    Rimos muito com as trovas humorísticas, que seria no caso, a satírica. Valeu!

    Josefa C.C.Innocêncio

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  5. Colegas, O trovadorismo não surgiu em plena Idade Média, séculos XII e XIII. Alguns autores separam a manifestação literária medieval em Primeira Época - do século XII ao XIV e Segunda Época XV até início do XVI. Ou seja, já se apresenta como início da transição da Idade Média para a moderna, que se dará com a queda de Constantinopla, por volta do século XV.

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    1. Cumpre dizer, antes de tudo, que o Trovadorismo se manifestou na Idade Média, período este que teve início com o fim do Império Romano (destruído no século V com a invasão dos bárbaros vindos do norte da Europa), e se estendeu até o século XV, quando se deu a época do Renascimento.
      Fato. Era Medieval, 1ª época (séculos XII a XIV) / 2ª época( século XV e inicio do XVI).

      Referência: CAMPEDELLI,Samira Yousseff. Literaturas: Brasileira e Portuguesa. 1ª edição.

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  6. Vale dizer que na origem o Trovar vem do verbo francês Trouver, que significa " encontrar". Arte poética surgida em Provença, cidade localizada ao sul da França.Logo, Trovar passou a ser sinônimo de Rimar. Porém a essência é o encontro entre melodia, mote e poesia. Poesia cantada sobretudo em língua "leiga", esta característica marcada pela oralidade facilitava a expressão e a memorização das cantigas, que recebiam este nome por serem acompanhadas sempre de instrumentos musicais.

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  7. O trovadorismo uma escola bastante importante e interessante primeiro aonde Deus era o centro de tudo e segundo onde existia o feudalismo naquela época por posses de terras que eram muito disputadas pelos senhores feudais. Naquela época só somente os senhores feudais poderiam dominar terras, e o engrançado que os vassalos defendiam os senhores feudais só por causa de ajuda financeira. Uma escola fantástica essa sem dúvidas!
    Rafael Passos

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  8. O Trovadorismo na época medieval foi chamado de “Idade das trevas” por não haver nenhuma descoberta ou contribuição de pensamento, tudo era voltado e comandado pela à igreja, as pessoas viviam para a religião, sendo extremamente oprimido pela igreja, neste período o concilio da igreja católica persuadia os vassalos que eram necessários, pagar os tributos com terras, com isso à igreja tornou-se a instituição mais rica da idade média.

    Os operários que trabalhavam no feudo somente tinham tempo para o trabalho, eles não tinham acesso nem a alfabetização, muitos nobres também não sabiam ler para eles não significava muito o conhecimento, o importante era torna-se cavaleiros, vestir roupas de linho fino e calvogar.

    Fazendo uma analise com os nossos dias, vivemos um paradoxo muitos dos nossos alunos de acesso a educação, mas, eles preferem rejeitar o conhecimento e gastar seus tempos somente com vestiário e musicas que não tem literalidade. O nosso maior desafio é mesclar não somente as escolas literárias, mas, também mesclar as disciplina contidas PCN com o estilos cultural que os nossos alunos vivem, para que possamos disseminar o conhecimento entre os nossos alunos.
    Por: Da Silva, Paulo Cesar

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  9. Chega de política vamos a AULA DE GRAMÁTICA:

    "Filho da puta" não é palavrão!!

    - “Filho da puta”: É adjunto adnominal, quando a frase for: Conheci um Presidente da República “filho da puta”.
    - Mas se a frase for: O Bolsonaro é um “filho da puta”, daí, é predicativo do sujeito .
    - Agora, se a frase: Esse “filho da puta” não está fazendo nada para combater a Covid 19, é sujeito.
    - Porém, se o cara aponta uma arma para a testa do Presidente e diz: Agora nega o envolvimento com a milícia, “filho da puta!!!”. Daí é vocativo.
    - Finalmente, se a frase for: O Presidente..., aquele “filho da puta”, retirou dinheiro da área da saude, daí, é aposto.
    Que língua a nossa, não?!?!?!
    Agora vem o mais importante para o aprendizado:
    - Se estiver escrito: Saiu do exército no passado e ainda se denomina capitão. O “filho da puta” é sujeito oculto.

    Max Resende

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