segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Trovadorismo



Origem de Portugal e da Língua Portuguesa

São de imensa escassez os dados sobre as antigas populações que habitavam a Península Ibérica entes do século III a. C. Sabe-se que nesta época, quando os romanos a invadiram para expulsar as tropas cartaginesas de Aníbal, na Segunda Guerra Púnica, se iniciou o processo de romanização da região. A população local constituía uma complexa mistura de raças: celtas, iberos, púnicos- fenícios, lígures, gregos e outros grupos mal identificados, que quase nada conservaram de suas línguas nativas.
O Latim levado pelos dominadores era o latim vulgar (sermo vulgaris), denominação que compreende as inúmeras variedades da língua falada pelos soldados, colonos e funcionários romanos. Esse latim vulgar, mesmo em Roma, diferia do latim literário ou clássico (sermo litterarius). Com o tempo, foi-se acentuando a diferença entre a língua literária, praticada por uma pequena elite, e a língua corrente, falada pelos mais variados grupos sociais e étnicos da Itália e das províncias incorporadas ao Império Romano. Já no fim do século V, os falares regionais estavam mais próximos dos futuros idiomas românicos ou neolatinos do que do próprio latim. Começa o período que se denomina romanço ou romance (do latim romanice, que significa “falar à maneira dos romanos”). É a denominação que se dá à língua vulgar nessa fase de transição, que termina com o aparecimento de textos redigidos em espanhol, o sardo, o provençal, o rético, o catalão, o galego-português, o franco provençal, o dálmata e o romeno.

Do Domínio Árabe à Guerra de Reconquista
Movidas pela Guerra Santa, as tribos árabes conquistaram o norte da África e, em 711, desembarcaram na Península Ibérica, onde resistiram até 1492. Com os árabes, floresceram na Península as ciências e as artes, a agricultura, a indústria e o comércio de desenvolveram, e inúmeras palavras foram introduzidas para designar os novos e variados conhecimentos. As palavras portuguesas dessa origem referem-se, em geral:
- À organização guerreira: acicate, adail, adarga, alcaide, alfanje, alferes, aljava, ameia, arrebatar, atalaia, ronda, zaga entre outras;
- À agricultura e à jardinagem: açafrão, açúcar, açucena, alcachofra, alecrim, alface, alfafa, alfazema, algodão, benjoim, berinjela etc.;
- Ao comércio, a pesos e medidas: aduana, armazém, arroba, quilate, quintal, etc.;
- A ofícios e cargos: alfageme, alfaiate, algibebe, almocreve, almotacel, almoxarife, arrais, califa, emir, etc.;
- A instrumentos musicais: adufe, alaúde, anafil, arrabil, tambor, etc;
- A ciências: álgebra, algoritmo, cifra, zênite, álcool, álcali, etc.;
Em alguns casos, os árabes foram intermediários de palavras que haviam tomado a outras línguas: do grego (alambique, alcaparra, alfândega, alquimia, acelga, arroz); do sânscrito (alcanfor, xadrez); do persa (azul, escarlate, jasmim, laranja); além de formas arabizadas de palavras latinas (abricó, alcácer, albornoz, almude). Foi durante o domínio árabe que se acentuaram as características distintivas do romanço peninsular. Na região que compreendia a Galiza (extremo norte da Espanha e a faixa lusitana entre o rio Douro e o rio Minho) constituiu-se uma unidade linguística particular que conservaria sua homogeneidade até o século XIV: o galego-português.
O galego-português, provavelmente, teria contornos definidos desde o século VI, mas é só a partir do século IX que podemos atestar sua existência por meio de palavras que se colhem de textos de latim bárbaro. Contudo, só no fim do século XII e início do século XIII que temos os primeiros documentos redigidos integralmente em galego-português, marcando o início da fase propriamente histórica da nossa língua.

A Independência de Portugal
O domínio árabe foi mais intenso no sul da Península Ibérica. Nas terras em que ia se desagregando o domínio muçulmano, foram instaurando os reinos cristãos, em torno de três núcleos: o asturiano, que originou o reino de Leão e Castela; o pirenaico, de onde saíram os reinos de Navarra, Aragão e alguns condados mais ou menos autônomos, e o de Barcelona, ligado aos francos, que teve uma evolução política, sob muitos aspectos, diferentes daquela dos outros estados hispânicos. O Conde Henrique de Borgonha amplia seus domínios, anexando ao Condado Portucalense os territórios conquistados na campanha contra os os mourões. Seu filho, Afonso Henriques, amplia a autonomia do condado em relação à Castela e, em 1128, inicia o processo de independência, e, finalmente, em 1179, a Santa Sé reconhece a nova monarquia, o Reino de Portugal e a sua primeira dinastia, a Casa de Borgonha.

O caráter nacional português
Três matrizes contraditórias contribuíram para a cultura que inseminava a população portuguesa do século XII: a católica, a islâmica e a hebraica. Essa contradição terá influência duradoura na modelação do espírito português.
A expulsão de mouros e judeus no fim do século XV e a Inquisição foram os aspectos mais dramáticos da destruição sistemática que a cultura triunfante impôs às culturas opostas, em um “genocídio cultural”. A contradição entre as culturas parece ter definido algumas marcas indeléveis: um permanente ceticismo em relação aos ideais; a legitimação tácita da hipocrisia e do oportunismo; a desconfiança em relação ao novo, sempre suspeito de pôr risco a segurança do Estado e a unidade moral da Nação, identificada como um credo único; a intolerância religiosa e o chauvinismo ideológico.

Evolução da Língua Portuguesa

Do latim ao português atual, reconhecem-se os seguintes períodos na evolução da Língua Portuguesa:
A – latim lusitânico: língua falada na Lusitânia, desde a implantação do latim até o século V, da qual não há documento escrito;
B – romance lusitânico: língua falada na Lusitânia, do século VO ao século IX, da qual também não há registro.
C – português proto-histórico: língua falada até fins do século XII, da qual há vestígios em palavras intercaladas nos documentos escritos em latim bárbaro ou em latim tabeliônico, usado nos registros cartorários.
D – português arcaico: do século XII (fins) ao XVI compreendendo dois períodos distintos (o galego-português, do século XII ao XIV e português médio, séculos XIV ao XVI) em que ocorre a separação em dois idiomas distintos, e a Língua Portuguesa inicia a transição entre sua fase arcaica e moderna.
E – português moderno: da segunda metade do século XVI até os nossos dias. Em 1536, com a primeira gramática de Fernão de Oliveira, a Língua Portuguesa começa a uniformizar-se. No mesmo século, com Luís de Camões, atinge a excelência literária.

O TROVADORISMO
O trovadorismo é a primeira escola literária, esse movimento literário compreende período que vai aproximadamente do século XII ao XIV. A partir da segunda metade do século XII, Portugal começava a afirmar-se como reino independente, conquanto mantivesse laços, econômicos, sociais e culturais com a Península Ibérica.
Desses laços nasceu, próximo á Galícia, uma língua abrigada, de traços simétricos denominados galego-português.  A produção literária dessa época foi feita nesta variação linguística.
A cultura trovadoresca refletia bem o panorama histórico desta época: as cruzadas, a luta contra os mouros, o feudalismo, o poder espiritual do clero. O trovadorismo foi marcado pelo sistema econômico e politico chamado Feudalismo, que consistia numa hierarquia rígida entre senhores, o suserano fazia a concessão de um feudo ao vassalo. O suserano prometia proteção ao vassalo como recompensa por serviços prestados. Essa relação era chamada de vassalagem.

Castelo Feudal e vassalo no campo.

O poder da Igreja nesta época era muito forte, pois o clero possuía imensas extensões de terra e dedicava-se a politica os conventos eram centros difusores da cultura medieval porquanto era neles que eram escolhidos os textos para serem divulgados em função da moral cristã.
A religiosidade valores espirituais e a salvação marcava a vida dos povos lusitanos juntamente com as cruzadas, expedições que tinha como objetivo a libertação de lugares santos na Palestina.
As características dessa época foi o teocentrismo, ate mesmo as artes tiveram como tema motivos religiosos, vida de santos e episódios bíblicos.
Desenvolveu em Portugal a literatura poética denominada Trovadorismo, os poemas produzidos nessa época eram feitos para serem cantados pelos trovadores, jograis e segréis.

Segréis

A poesia medieval portuguesa
Pode ser agrupada em dois gêneros, lírico e satírico os quais se desdobram em:
Ø  Gênero lírico, em que o amor é a predominantes, são as cantigas de amor e as cantigas de amigo.
Ø  Gênero satírico, em que a intensão é criticar alguém de uma forma grosseira ou sutil. Pertencem a esse gênero as cantigas de escarnio e as cantigas de maldizer.
Gênero Lírico
A literatura portuguesa dentro do gênero lírico teve seu inicio a partir da Canção da Ribeirinha, escrita por Paio Soares de Taveirós por volta de 1189, essa cantiga foi dedicada à ribeirinha Maria Pais Ribeiro favorita de D. Sancho I, segundo Dona Carolina Michaëlis de Vasconcelos.

Non me sei parelha: Ninguém se assemelha a mim.
Mentre me for’: enquanto minha vida continuar
Mia senhor branca e vermelho:  minha senhora de pela alva e faces rosadas.
Retraya :
No mundo nom me sei parelha,
mentre me for’ como me vay,
ca já moiro por vós - e ay!
mia senhor branca e vermelha,                                      
queredes que vos retraya
quando vus eu vi em saya!
Mao dia que me levantei 
que vos enton nom fi fea!

E, mia senhor, des aquel di’, ay 
me foi a mi muyn mal :
E vós, filha de dom Paay
Moniz, e bem vos semelha
D'aver eu por vós guarvaia,
Pois eu, mia senhor, d'alfaia
Nunca de vós ouve nem ei
Valia d'ua correa


D. Sancho I

Gênero Satírico
Os trovadores medievais a par do lirismo cultivaram, nessa época o gênero satírico. É a composição que melhor expressa a psicologia do tempo: vêm à tona assuntos que despertam grandes comentários na época; nas relações sociais dos trovadores; fogem às normas rígidas das cantigas de amor; oferecem novos recursos poéticos.
São sátiras de grande riqueza, uma vez que apresentam um considerável vocabulário, observando-se, algumas vezes, o uso de trocadilhos.
Cantigas de Escárnio: demonstram críticas bem-humoradas e sutis sobre uma pessoa sem ter o nome citado.
Cantigas de Maldizer: é feita de uma crítica maldosa, com intenção de ofender a pessoa, citando o nome ou o cargo da pessoa sobre quem se faz a sátira.
Nas cantigas de amigo quanto nas de escárnio ou maldizer, pode ocorrer diálogo. Essas cantigas são denominadas tensão ( ou tenção).
Os Cancioneiros
ð  Cancioneiros da Vaticana: encontrado em forma na biblioteca do Vaticano, datado dos fins do século XV. Contendo 1205 cantigas de todos os tipos.
ð  Cancioneiros da Ajuda: agrupados na Biblioteca do Palácio da Ajuda, em Lisboa.
ð  Cancioneiros da Biblioteca Nacional de Lisboa: (1647) poesias dentre os 3 é o mais completo. Foi copiado na Itália no século XVI. Pertenceu a Ângelo Colocci, um humanista italiano, e no século XIX, foi de Conde Brancutti. Por isso é chamado de Cancioneiro Coloca – Brancutti.
Cantiga Lírico-Amorosa
Como diz o nome, esse tipo de Cantiga expressa subjetivamente o sentimento do eu lírico.
Cantiga de Amor
O eu lírico era sempre masculino, só homens escreviam cantigas, já que na época as mulheres não tinham a possibilidade de alfabetização.
A mulher era chamada de senhor, em galego-português e a palavra servia para os dois gêneros.
A situação retratada era sempre a de um amor impossível, a mulher a quem se dirigi o eu lírico ou era casada, comprometida ou de classe social superior. Ela é a Dona. (Palavra que vem do latim domina e em português gera o verbo dominar).
O amor cortês (referente à Corte) é o reflexo da hierarquia feudal, a mulher inatingível, é a senhora, a dona, o objeto de adoração a quem o eu lírico dirigi seus versos, em sofrimento amoroso.
No trovadorismo os termos que definem essa estética são Vassalagem Amorosa (o vassalo da cavalaria frente ao seu soberano, no caso sua Dona). Coita (Que transforma o trovador em coitado). A mesura (Conter-se a expressão do sentimento, é a contenção amorosa).

Essa cantiga de Afonso Fernandes mostra algumas características de da Cantiga de Amor.
“Senhora minha, desde que vos vi,
lutei para ocultar esta paixão
que me tomou inteiro o coração;
mas não o posso mais e decidi
que saibam todos o meu grande amor,
a tristeza que tenho, a imensa dor
que sofro desde o dia em que vos vi.” 
Nessa 1ª estrofe o trovador expressa o que sente mais de uma maneira que expressa súplica, a mulher que ele conheceu está sendo idealizada em que ele se declara a ela, ele expõe os argumentos que justificam sua desgraça.
Na composição lírico-amorosa é comum a presença de Refrão, estrofe que se repete em vários momentos no texto, características de muitas canções populares tanto em Portugal como no Brasil, fator que revela a natureza musical do trovadorismo, por fim, ao analisar outras cantigas vamos perceber que a mulher é retratada sempre da mesma maneira pelo trovador, o que torna quase mulher um “modelo literário”, e não uma pessoa real.
Em “Cecília” Chico Buarque vai praticamente em flerte com a Cantiga de Amor, narrando na canção sua dor por não poder “cantar” Cecília. A mulher em questão aparece exatamente como nas catingas de amor, é inalcançável um modelo literário.



Cecília


Quantos artistas
Entoam baladas
Para suas amadas
Com grandes orquestras
Como os invejo
Como os admiro
Eu, que te vejo
E nem quase respiro
Quantos poetas
Românticos, prosas
Exaltam suas musas
Com todas as letras
Eu te murmuro
Eu te suspiro
Eu, que soletro
Teu nome no escuro

Me escutas, Cecília?
Mas eu te chamava em silêncio
Na tua presença
Palavras são brutas

Pode ser que, entreabertos
Meus lábios de leve
Tremessem por ti
Mas nem as sutis melodias
Merecem, Cecília, teu nome
Espalhar por aí
Como tantos poetas
Tantos cantores
Tantas Cecílias
Com mil refletores
Eu, que não digo
Mas ardo de desejo
Te olho
Te guardo
Te sigo
Te vejo dormir



Cantiga de Amigo
            Também expressa amor, porém é necessário dizer, que a palavra amigo, na época, era sinônimo de namorado ou amante.
Características da Cantiga de Amigo
Eu lírico Feminino, trovador assume ponto de vista da mulher, essa mulher é solteira e não submetida ao casamento e seus limites, A mulher se dirige diretamente ao amigo, mãe, irmãs, amigas ou algum elemento da natureza.
A Cantiga de amigo, diferente da de amor, tem inspiração popular tendo, por essa razão, linguagem mais simples, nela o amor passa ser possível, fica evidenciado a importância do amor físico. Com relação a forma também existe a presença do refrão, como poderemos ver abaixo:
Na Cantiga abaixo, uma das mais conhecidas da literatura portuguesa, apresenta um diálogo entre a mulher e o pinheiro solicitando notícias do namorado.
-Ai flores, ai flores do verde pinheiro,
Se por acaso sabeis novidades do meu amigo!
     Ai Deus, onde está ele?

Ai, flores, ai flores do verde ramo,
Se por acaso sabeis novidades do meu amado!
     Ai Deus, onde está ele?

Se sabeis novidades do meu amigo,
Aquele que mentiu no que prometeu para mim!
     Ai Deus, onde está ele?

Se sabeis novidades do meu amado.
Aquele que mentiu no que me jurou!
     Ai Deus, onde está ele?

-Vós perguntais pelo vosso amigo?
Eu bem vos digo que ele está são e vivo.
     Ai Deus, onde está ele?

Vós perguntais pelo vosso amado?
Eu bem vos digo que ele  está vivo e são.
    Ai Deus, onde está ele?

Eu bem vos digo que ele está são e vivo.
E estará convosco no prazo combinado.
     Ai Deus, onde está ele?

E eu bem vos digo que está vivo e são.
E estará convosco no prazo combinado.
     Ai Deus, onde está ele?
Curiosidade, na música “Cantiga de Amor” de Teixerinha embora o nome, as características presentes são mais da Cantiga de Amigo, do que como sugere o nome dá canção, ao ponto de ser possível traçar um comparativo, da forma presente na Cantiga anterior, e a música que segue abaixo, ambas apresentam um diálogo, com a diferença que na primeira, esse ocorre entre a mulher e o pinheiro, e na outra, ocorre entre o trovador e sua musa.

Cantiga de Amor
O sereno cai na flor
Seu olhar caiu em mim
Nestes meus versos de amor
Permita que eu diga sim
Você é a flor mais linda
Que nasceu no meu jardim
Que nasceu em seu jardim
O amor traz o ciúme
Achas que sou uma flor
Ser sincera é meu costume
Vou guardar por toda vida
Só prá você meu perfume
Só prá mim seu perfume
Eu não sei se eu mereço
Também sou muito muito sincero
E a verdade não tem preço
Flor mais linda igual a você
Eu juro que não conheço
Me juras que não conheces
Parece que estou sonhando
Suas palavras moreno
Já estão me contagiando
Ao ouvir seus elogios
Meus olhos estão chorando
Trecho da Música “Cantga de Amor” de Teixerinha
Cantiga Satírica
Os trovadores não expressaram seu lirismo. Preocuparam-se também em satirizar situações do seu tempo, zombando de autoridades de fatos considerados ridículos, de outros trovadores e até de mulheres.
Num livro da época chamado “Arte de Trovar” a cantiga satírica e definida assim: “São aquelas que os trovadores fazem querendo dizer mal de alguém nelas”, é por vezes difícil distinguir, escárnio e mau dizer as duas espécies dessa cantiga.
Cantiga de Escárnio
É a Crítica indireta, irônica, mais sutil. São sátiras de intenção social ou individual, também cantigas de escárnio em que um poeta crítica a obra de outro trovador ou os próprios trovadores.
No Trecho abaixo, um exemplo:

O que vejo agora, já foi profetizado.
Por dez e cinco, os sinais do fim.
Ainda neste mundo tudo misturado:
Faz-se peregrino o mouro ruim.

Cantiga de Maldizer
Apresenta uma crítica mais direta, feroz e grosseira que a de escárnio.
Veja o exemplo da conhecida Cantiga de Maldizer de um trovador para uma dama que se queixou dele nunca ter feito uma cantiga pra ela.



"Ai dona feia! Foste-vos queixar
De que nunca vos louvo em meu trovar:
E umas trovas vos quero dedicar
Em que louvada de toda maneira;
Sereis; tal é o mewu trovar:
Dona feia, velha e gaiteira.
Ai dona feia! Se com tanto ardor
Quereis que vos louve, como trovador.
Trovas farei e de tal teor
Em que louvada de toda maneira
Sereis, tal é o meu louvor:
Dona feia, velha e gaiteira.
"Ai dona feia! Nuca vos louvei
Em meu trovar eu que tanto trovei
E eis que umas trovas vos dedicarei
Em que louvada de toda maneira
Sereis e assim vos louvarei
Dona feia, velha e gaiteira.



Podemos usar exemplos contemporâneos que ilustrariam bem esse diferença tênue entre a Cantiga de Escárnio e maldizer.  Como podemos ver abaixo:
No samba “Pecado Capital” de Paulinho da viola. A relação do homem com o dinheiro e o capitalismo e relatada de forma crítica, porém sutil, com leveza e mesmo beleza, de modo que, até poderia ser o samba uma Cantiga de Escárnio.
Pecado Capital


Dinheiro na mão é vendaval
É vendaval!
Na vida de um sonhador
De um sonhador!
Quanta gente aí se engana
E cai da cama
Com toda a ilusão que sonhou
E a grandeza se desfaz
Quando a solidão é mais
Alguém já falou...
Mas é preciso viver
E viver
Não é brincadeira não
Quando o jeito é se virar
Cada um trata de si
Irmão desconhece irmão
E aí!
Dinheiro na mão é vendaval
Dinheiro na mão é solução
E solidão!
Dinheiro na mão é vendaval
Dinheiro na mão é solução
E solidão!
Dinheiro na mão é vendaval
É vendaval!
Na vida de um sonhador
De um sonhador!
Quanta gente aí se engana
E cai da cama
Com toda a ilusão que sonhou
E a grandeza se desfaz
Quando a solidão é mais
Alguém já falou...
Mas é preciso viver
E viver
Não é brincadeira não
Quando o jeito é se virar
Cada um trata de si
Irmão desconhece irmão
E aí!
Dinheiro na mão é vendaval
Dinheiro na mão é solução
E solidão!
Dinheiro na mão é vendaval
Dinheiro na mão é solução
E solidão!
E solidão! E solidão!
E solidão! E solidão!
E solidão! E solidão!
Paulinho da Violão



Agora no RAP “Mano na Porta do Bar” de Racionais MC’S, as relações entre dinheiro e capitalismo, são colocadas de forma mais dura e feroz, no decorrer da história de personagem da música em questão, logo esse verve literária se encaixa melhor nas características da Cantiga de Maldizer.
Mano na Porta do Bar


Você viu aquele mano na porta do bar 
Jogando um bilhar descontraído e pá 
Cercado de uma pá de camaradas 
Da área uma das pessoas mais consideradas 
Ele não deixa brecha, não fode ninguém 
Adianta vários lados sem olhar quem 
Tem poucos bens, mais que nada, 
Um fusca 73 e uma mina apaixonada 
Ele é feliz e tem o que sempre quis 
Uma vida humilde porém sossegada 
Um bom filho, um bom irmão, 
Um cidadão comum com um pouco de ambição 
Tem seus defeitos, mas sabe relacionar 
Você viu aquele mano na porta do bar 
(aquele mano) 
Você viu aquele mano na porta do bar 
Ultimamente andei ouvindo ele reclamar 
Da sua falta de dinheiro era problema 
Que a sua vida pacata já não vale a pena 
Queria ter um carro confortável 
Queria ser uma cara mais notado 
Tudo bem até aí nada posso dizer 
Um cara de destaque também quero ser 
Ele disse que a amizade é pouca 
Disse mais, que seu amigo é dinheiro no bolso 
Particularmente para mim não tem problema nenhum 
Por mim cada um, cada um 
A lei da selva consumir é necessário 
Compre mais, compre mais 
Supere o seu adversário, 
O seu status depende da tragédia de alguém, 
É isso, capitalismo selvagem 
Ele quer ter mais dinheiro, o quanto puder 
Qual que é desse mano ? 
Sei lá qual que é 
Sou Mano Brown, a testemunha ocular 
Você viu aquele mano na porta do bar 
(Aquele mano) 
- " Quem é aqueles mano que tava andando com você ontem a noite ?" 
- " É uns mano diferente aí que tá rolando de outra quebrada aí,mas é 
o seguinte, eu tô agarrando os mano de qualquer jeito, certo ? "
- " Nós somo aqui da área mano !? " 
- " Não tem nada a ver com você !!! " 
- " Já era meu irmão ! já era !!! " 
- " Qual que é ? Num tô te entendendo, explica isso aí direito..."
- " Movimento é dinheiro meu irmão... " 
- " Você nunca me deu nada !!! " 
Você viu aquele mano na porta do bar 
Ele mudou demais de uns tempos para cá 
Cercado de uma pá de tipo estranho 
Que promete pra ele o mundo dos sonhos 
Ele está diferente não é mais como antes 
Agora anda armado a todo instante 
Não precisa mais dos aliados 
Negociantes influentes estão ao seu lado 
Sua mina apaixonada, linda e solitária 
Perdeu a posição agora ele tem várias... 
Várias mulheres, vários clientes, vários artigos, 
Vários dólares e vários inimigos. 
No mercado da droga o mais falado 
O mais foda, em menos de um ano subiu de cotação 
Ascenção meteórica, contagem numérica, 
Farinha impura, o ponto que mais fatura 
Um traficante de estilo, bem peculiar 
Você viu aquele mano na porta do bar 
(Aquele mano) 
Ele matou um feinho a sangue frio 
As sete horas da noite, 
Uma pá de gente viu e ouviu, a distância 
Dia de cobrança, a casa estava cheia 
Mãe, mulher e criança 
Quando gritaram o seu nome no portão 
Não tinha grana pra pagar perdão é coisa rara 
Tomou dois tiros no meio da cara 
A lei da selva é assim, predatória 
Click, cleck, BUM, preserve a sua glória 
Tranformação radical, estilo de vida 
Ontem sossegado e tal 
Hoje um homicída 
Ele diz que se garante e não tá nem aí 
Usou e viciou a molecada daqui 
Eles estão na dependência doentia 
Não dormem a noite, roubam a noite 
Pra cheirar de dia 
O tal do vírus dos negócios muita perícia 
Ele da baixa, ele ameaça, truta da polícia 
Não tem pra ninguém no momento é o que há 
Você viu aquele mano na porta do bar 
(Aquele mano) 
" - E aí mano, e aquela fita de ontem a noite ? " 
" - Foi um mano e tal que me devia, mó pilantra safado, queria medá 
perdido... - Negócio é negócio, deve pra mim é a mesma coisa que
dever pro capeta, dei dois tiro na cara dele, já era... virou osolhos. " 
" - Mas e agora, como é que fica !? " 
" - Ih...Sai fora !!! Sai, Sai !!! 
Você tá vendo o movimento na porta do bar 
Tem muita gente indo pra lá, o que será ? 
Daqui apenas posso ver uma fita amarela 
Luzes vermelhas e azuis piscando em volta dela 
Informações desencontradas gente, indo e vindo 
Não tô entendendo nada, vários rostos sorrindo 
Ouço um moleque dizer, mais um cuzão da lista 
Dois fulanos numa moto, única pista 
Eu vejo manchas no chão, eu vejo um homem ali 
É natural pra mim, infelizmente 
A lei da selva é traiçoeira, surpresa 
Hoje você é o predador, amanhã é a presa 
Já posso imaginar, vou confirmar 
Me aproximei da multidão e obtive a resposta 
Você viu aquele mano na porta do bar 
Ontem a casa caiu com uma rajada nas costas...
Racionais MC”S



Por Fim, trecho do RAP “Trovadores da Nova Era” de “Anderson Carvalho (Gbox) e Renato de Souza.



Verso 1
Ritmo e Poesia assim se denomina
Musicalidade que na periferia predomina
Com a linguagem falada no idioma das ruas
A expressão popular por aqui continua
Mas, não é como outrora. Agora é mais “Da hora”.
Batida pesada e rima que a gente adora.
Se antes você cantou a cantiga da Ribeirinha
Agora vai chegar a hora de cantar a minha
A semelhança com trovador do passado
É que não há na letra o um português mais rebuscado
Os versos deles eram acompanhados por cordas e sopros
Mas agora o acompanhamento é outro.
Caixa, bumbo, scracth, o som que a galera pira.
As letras tem muito protesto só não tem muita lira

Tem muita gíria, às vezes até um palavrão
As coisas que não escrevo por questão de educação.

Verso 2
Fazer cantigas de amigo ou cantigas de amor
De escárnio, maldizer era o ofício de um trovador.
Mas é bem diferente a nossa missão
Pois usamos a música denunciar uma situação.
Contrária a nós de forma simples pra que todos possam entender
Informação que o MC, traz não passa na TV.
A nossa realidade é diferente da Tela
A vida que vivemos é diferente da novela
Tem gente que acha que Rap é musica de moleque
Mas eu tenho assuntos tão numerosos quanto as dobras de um leque
Posso falar da minha garota, do meu bairro.
Do meu time, do som que ouço no meu carro.
Falo de política, religião e futebol,
Só não tem Dó, Ré, Mi, Fá, Sol Lá, Si, Bemol.
Nem sustenido, o que entra nos ouvidos,
Musica rechaçada, para os maestros é um ruído.




REFERÊNCIAS
FARACO & MOURA, Língua e Literatura, 2° grau volume único.
CASTRO, Maria da Conceição, Língua & Literatura, volume 1.
ANDRADE, Fernando Teixeira, Literatura Portuguesa.









DAVID SOARES BRASILEIRO LEITE
RA: 3730701196
MICHELE FERREIRA DOS ANJOS DE PAULO
RA 1299876525
RENATO DE SOUZA SANTANA
RA 1299882397
 

4 comentários:

  1. Colegas,

    vivenciando uma época acadêmica onde estudantes não se sentem atraídos por livros, muito menos de ter sua própria biblioteca focada na escola literária que mais o atraí, é um desafio o trabalho de vocês.Tendo como objetivo apresentar ao leitor um marco na história de Portugal, a época do trovadorismo, assim despertar prazer em conhecer uma cultura que revolucionou sua época e foi precursora para que outras escolas literárias surgissem.
    Parabéns!

    Helen, Leandro, Lucinéia e Mônica

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  2. Conhecer sobre o Trovadorismo, é saber um pouco do período de transição, a cultura, religião, o sistema econômico e político chamado Feudalismo.No entanto,este trabalho nos mostra como vivenciar o Trovadorismo, como também trabalhar com os nossos futuros alunos, principalmente ao escolher as cantigas.
    Parabéns!
    Luciana Teixeira Silva de Carvalho RA: 6820479003

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  3. Uma das importâncias do Trovadorismo para o nosso curso de Letras é que nas cantigas medievais encontramos as marcas da cultura e do momento histórico em que elas foram elaboradas.Nesse universo controlado ideologicamente pela igreja, tínhamos uma sociedade feudal onde o camponês estava preso à terra em que trabalhava e o nobre, ou senhor, construía fortalezas e liderava cavalarias para proteger seu feudo ou atacar outros.

    Parabéns!!!

    Oswaldo Ferreira de Alencar Junior RA - 1299141108

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  4. Discordo do Oswaldo. As trovas e cantigas, pela linguagem laica, pelo humor e sátira, pelos temas irreligiosos como o amor entre homem e mulher num plano mais sensual e cotidiano representam na literatura uma transgressão ao teocentrismo e um desafio a divisão de classes que caracterizava a sociedade feudal, assinalando sua decadência.

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